segunda-feira, 6 de maio de 2019

A Via Láctea




 Ouvi uma voz tão triste que logo me disse assim:

Que se eu continuasse assim estaria tão perto do fim.
A Terra pequenininha e nos beijos de uma Flavinha
Sobreviveria enfim.

Num planeta tão distante, numa voz reconfortante
Você acredita em mim?
Uma luz muito brilhante, uma estrela, um diamante.
Não dá pra explicar assim

Como explicar um momento
Uma visão, um sentimento
Sentir no céu esse lamento
Você acredita em mim?

Se o mundo gira só por dinheiro
Se amor que vale não é verdadeiro
Estamos mesmo tão perto do fim

Se sua luz é o que me guia
É uma carta de alforria

E você ainda acredita em mim?

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Canção pra Entender




 Não dá pra explicar o que só se explica através do sentir

Um vento que sopra em seu rosto suado e que te faz sorrir
Não dá pra entender como a gente precisa ter sempre razão
É só se calar e calado escutar o que diz o coração

A chuva que molha a poeira
As flores duma laranjeira
Semente a brotar
Um verso riscado no muro
Um beijo roubado no escuro
Precisa explicar?

Não dá pra explicar essa imensa vontade de tanto saber
Nem dá pra entender essa necessidade de ver para crer
Passarinho que sabe voltar pro seu ninho sem ter endereço
Das coisas mais caras e raras da vida, nenhuma tem preço

Declare seu amor pra vida
Não deixe ela ser tão corrida
Vamos descansar
Dormir no sossego da rede
Brincar de rabiscar parede
Ter tempo pra amar

Não queira ter tanto dinheiro
Mais rico é quem é por inteiro
Então vamos viver
Que a vida é só uma e passa
E o mais bonito é de graça
É só pagar pra ver

quarta-feira, 27 de março de 2019

Fratello


 


Não fuja da festa

Aproveite o que resta
Não conte segredo
Não morra de medo
Não brigue com o guarda
E leve a namorada
no Jardim de Alah

Invente uma dança
Seja mais criança
Descanse um bocado
Não seja obrigado
Ouça uma estória
E guarde na memória
pra depois contar

Não seja tão sério
Não faça mistério
Não fique no escuro
Quebre esse muro
Coloque o seu nome
No meu telefone
pra eu te ligar

Não faça promessa
Não tenha mais pressa
Seja o que interessa
Pro que te interessa
Você nunca sabe
O que tem de verdade
do lado de lá

Não ouça o que eu digo
Se não faz sentido
Só sou seu amigo
E te quero comigo
Não esqueça o abrigo
Nosso esconderijo
pra gente brincar

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Oração Capital




 Toca o rosto suado da moça com leveza. Beija sua testa com os olhos cerrados numa oração que se constrói. Afaga seus cabelos com doçura, revela sua culpa de não dizer o que sentiu quando sentiu que não sabia dizer. Corre os dedos por seu corpo trêmulo e descobre sua pele em devaneios.

Cada curva escorre pelas mãos. 
Cada toque, uma saudade que vai ficar.
Alinha seus suspiros num só compasso, morde seus lábios e sussurra amores impossíveis em seu ouvido. Faz de conta que é verdade e conta tudo outra vez. 
Olha em seus olhos e seus olhos sentem fome. Anseiam devorar seu vigor em fogo desvairado enquanto sucumbe pelo ar, até a próxima vez.
Então suas mãos se unem e, seguras, se confundem. Retalham-se os corpos. Misturam-se as carnes. Entorpecem-se os sentidos. Aceleram-se os batimentos num só.
Alimentam-se os desejos num só.
Colorem-se os desejos num só.
Encerram-se os desejos num só. 
Promessas que se cumprem vorazes. Saudades que se esgotam em chamas chispantes. Orvalho que cai na flor pra regar a vida. Verdades ocultas, palavras que despertam paixões pra quem as deseja. 
Toca o rosto suado da moça com leveza. Beija sua testa com os olhos cerrados numa oração que se constrói.
Ah, o prazer!
Essa oração capital... 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A Paz que eu Esperava


 


Então você se depara com a hora sagrada da morte.

Inevitável.
Irreparável.
Você se lembra do primeiro ao último bater do coração. De quando luzes se acenderam pela primeira vez e tudo se tornou colorido e inexplicável, até o momento desse breu de agora, paradoxalmente sem sentido!
Se você esperava pelos santos e anjos a te receberem, eles não vieram. Não vieram também os servos de Hades a te consumir. Nem há céu algum com nuvens de algodão, harpas tocadas por querubins. Tampouco trevas abaixo do chão.
Há uma consciência que pulsa, uma lembrança de experiências, sentidos e sensações. Há um corpo lutando com todas as forças para manter-se funcional, vivo, enquanto uma alma resignada aguarda um perdão que não existe.

Aceitar todos os erros com doçura, abraçar todas as dores, varrer todas as verdades do mundo, aguardar o próximo segundo como o segredo mais guardado da vida: acreditar!



Dessa forma, nada mais importa.
Então cai uma lágrima.
Um sorriso.
Um suspiro.
Uma estrela.
Uma gratidão,
Amém.