Deus me livre!
Frase
comum do meu cotidiano que cria a sensação equivocada de minha crença em Deus. Não
que eu não acredite na existência de Deus. Eu apenas desconfio dela. E essa
desconfiança me libera da condição de ser um ser ateu. Agnóstico? Tudo bem, se
rótulos se fazem necessários.
As verdades são perigosas e a necessidade de se crer num salvador já matou milhões e milhões e milhões de inocentes num holocausto produzido pela propaganda disseminada sem nenhum escrúpulo, pudor ou piedade em prol de interesses escusos, sombrios, egocêntricos, malditos – a vontade exacerbada de poder! No final das contas a culpa é um bolo gigantesco e amargo: os primeiros e mais generosos pedaços cabem aos mentores, disseminadores e produtores da desgraça feita, enquanto as demais fatias são distribuídas aos crentes, aos braços cruzados, às bocas caladas, aos preguiçosos de pensar e aos que simplesmente não as rejeita.
Em noites como essa, em que a mente acelera e as palavras se infinitam aqui dentro – desconexas e despretensiosas – eu simplesmente as deixo nascer do jeito que vieram: um texto cheio de placenta, sangue e excremento. Apenas corto o cordão umbilical e elas estão livres e sozinhas, prontas para serem interpretadas a mil modos, a mil vidas, a mil crenças e descrenças.
Tranco a porta da sala.
Apago as luzes.
E vou dormir, tentando rejeitar a fatia daquele bolo amargo.
Sim!
Porque tem bolo pra todo mundo – tem bolo pra todos nós! E muitos morreram, morrem e ainda morrerão – engasgados.
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