quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

La Forza della Vita

 



É... tem uma força maior sim. 
Tem sim. 
Uma força que atua nos bastidores da nossa existência.
Ela pode agir de maneira suave, que nem brisa.
Ou intensa como uma tempestade.
Não importa. 
O fato é que essa força existe, nos influencia e ainda está além da nossa compreensão. Por que as coisas acontecem?
Não quero e nem vou externar responsabilidade por minhas escolhas, atitudes e pensamentos. Não devo, por sinal! Eu sou responsável, único responsável pela minha vida.

Mas essa força... 
Essa força vem e me mostra que não é bem assim.
Que não estou no comando sozinho.
É como se eu pudesse fazer o que bem entender com minha história (e posso!), mas há algo ditando o enredo, do qual, sinto (e como sinto!) não posso escapar...
Predestinação o nome disso?

Bem, prefiro chamar de vida.
Pois estava o rapaz caminhando, leve e em equilíbrio.

Aquela vontade de aquietar sua alma, de criar um ninho, de sossegar na vida, de ter um cachorro pra cuidar.
Seus planetas todos alinhados com as estrelas do seu querer, vontade de mansidão mesmo, de serenidade e leveza.
E a vida vem, na queda duma estrela cadente e mostra a ele que não, definitivamente não está pronto para sossegos. E transforma todas as suas verdades e escolhas em pó...

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mulher em Extinção


 


Outro dia  vi uma notícia no jornal... “Nascem cada vez mais homens no planeta”, é o que diz uma pesquisa realizada pela ONU. No início não levei muito a sério, mas as estatísticas que busquei em sites na internet após ver a matéria, me fizeram crer. No Brasil, por exemplo, só existem mais mulheres adultas do que homens, por causa do índice de assassinatos, que acontece com mais frequência entre o sexo masculino. Caramba! Se as estatísticas estiverem corretas, é o fim da humanidade! A não ser que nós homens, consigamos criar barriga, sem a necessidade do chope nosso de cada dia, ou, por outro lado, os cientistas consigam criar uma máquina de fabricar mulher!


Ah, se eu tivesse o dom da ciência! Mas, honestamente, não estou preocupado com o fim da humanidade, apesar de ter me esquecido das araras azuis, baleias azuis, onças pintadas e panteras cor-de-rosa tão logo assisti a matéria na TV... eu não estarei lá pra presenciar a desgraceira, com o perdão da palavra... Procriação, os caras que trabalham com os clones se viram nos trinta até lá... Eu só sinto uma pena enorme dos homens que virão, e ouvirão histórias de seres maravilhosos de corpo e graça, que passaram por aqui em tempos idos. “Era uma vez a mulher. A mulher era um ser fascinante que encheu de cores o planeta, por muitos, muitos anos. A mulher era criatura interessante... a mulher conseguia ser docemente amarga quando reclamava das coisas que são corriqueiras a nós homens, como deixar as roupas jogadas pelo chão, por exemplo. Outras vezes, era brutalmente doce, quando se aconchegava em nossos braços pedindo carinho. A mulher era um ser tão extraordinário, que conseguia fazer de nós homens, um lixo ou um super-homem, isto dependia do seu humor. A mulher era assim... criatura que não pode ser contada em histórias, se não foi vivida. Era a mulher que criava a maioria de nossas emoções, fossem elas boas ou ruins. Com as mulheres, a maioria dos poetas se foram, sobreviveram apenas os saudosistas de amor... as flores também se tornaram raras, pois eram elas que enchiam de graça seus corações e hoje, já não fazem tanto sentido...” E a história seguiria, sem nunca, jamais, em hipótese alguma, ser encerrada com o famoso: e foram felizes para sempre...

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Um Ágora Brasileiro


  


Às vezes eu gosto de sentar numa praça e observar as pessoas que passam, junto com o tempo. Confesso que sinto vontade de sair questionando e ensinando, como Sócrates fazia nos ágoras. Mas eu não tenho nada a ensinar. Quando muito, consigo aprender com as pessoas que me ensinam, sem se aperceberem disto.

            Nesta semana eu sentei-me num dos banquinhos da Praça da Assembleia, aqui em Belo Horizonte. Às vezes faço daquele canto meu ágora, onde cismo comigo mesmo, toda sorte de devaneios e inquietudes nas quais navegam meu coração e minha mente.
            No banquinho de madeira logo ao lado do meu, ouvi dois moradores de rua papeando, enquanto produziam algum tipo de artesanato:
            _ Rapaz, ninguém passa fome nesse mundo mais não! Você pode ir pra qualquer capital do Brasil, que se tiver um tiquinho de disposição, descola pelo menos pro rango... fácil, fácil!
            _ Você não viu ontem, mano! Eu tava zerado. Corri ali pra Álvares Cabral e descolei vintão, rapidinho. Em meia hora lavei dois carros! Minha bóia e minha cachaça eu salvei...
            _ A gente tá precisando arrumar é um buraco mais da hora pra entocar, acha não? O negócio ali tá sinistro, irmão!
            _ Que nada, mano! Eu to pensando é em cair no mundão de novo! Essas paradinhas aqui que a gente faz, vende demais no litoral! Bora pro nordeste? Tirar onda com as gringas e tal...
            Eu estava tão mergulhado naquela conversa que demorei pra notar a presença de um senhor, que sentou-se ao meu lado. Roupas simples, óculos de grau, segurava uma mochila no colo quando disse:
            _ Faz frio, faz calor... quem entende esse tempo?
            _ Pois é... só este ano a gripe me pegou duas vezes...
            _ Cheguei aqui cedinho, vim ter com meu chefe ali. Mas disseram que ele vai aparecer só à tarde... vou esperar, não é? Vim de Manhuaçu só pra resolver um problema com ele. Sabe do que estou falando?
            Não, eu não sabia...
            O senhor continuou:
            _ Na hora de pedir voto, vai pra cidade da gente e promete de um a tudo! Eu fiz minha parte, agora eu quero o meu. Sou esperto, menino! Ninguém me faz de bobo não. Dei meu nome pra ele, RG e tudo. Agora eu quero o meu...
            _ Entendi...
            _ Ó, este aqui é irmão deste! ele disse, mostrando os olhos atrás dos óculos de grau._ O assessor disse que ele chega de tarde. Estou só esperando meio-dia. Meio-dia pra mim já é de tarde. Não saio daqui sem o meu. Ah, não saio mesmo...
            É... por essas e por outras, o Brasil ainda é o país do futuro. Passei os olhos pelas páginas de um livro, enquanto ele continuou:
            _ Quer saber? Sou bobo nada! Depois o deputado chega antes do combinado e vai embora sem ter comigo! Sou bobo não! Vou sentar a bunda lá na cadeira da sala dele e não arredo o pé enquanto ele não aparecer. Bom dia aí pra você... sou bobo?
            Não contive o riso, observando seu andar claudicante. No banquinho onde os moradores de rua conversavam, percebi um casal.
            _ Mas olha que coincidência! Tem uns dez anos que a gente não se vê, uai!
            _ Não é mesmo? Eu casei, meu marido já me largou. Agora tô com a minha filha sozinha. Lembra dela? A Bruna. Naquela época ela tinha cinco anos... está uma moça!
            _ Eu passei um bom tempo em São Paulo e voltei. Vida dura lá!
            _ Olhe, estive em São Paulo no Consulado, tentando visto pra Bruna ir pra Disney, mas não consegui não...
            _ Ah, sei! O Netinho é dono lá...
            _ Netinho?
            _ É, aquele cantor de pagode...
            _ Dono de onde?
            _ Do Consulado, uai...
            _ Ah, é? Sabia não...
            Nem eu. Ainda tenho muito que aprender...

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Sina Nossa


 


É quando o engasgo trava a voz em verdades chispantes. Um bolo amargo vai se formando no estômago. Coração acelera. Respiração descompassa. A visão fica turva. Realidade se confunde. Você sabe que não é real. No fundo você sabe. São as dores do mundo se manifestando, viscerais. Mas você não consegue controlar. A morte é iminente. Há um tremor que te paralisa. Os minutos passam e você sabe que vai ter de lidar com isto. Logo tudo voltará ao normal. Aguente firme, a vida vem te resgatar. Sempre vem. Você sabe.

Às vezes você suporta essa fúria com a leveza de um anjo. No primeiro sinal desse medo insano, antes que aquele turbilhão de sensações destrutivas domine sua mente e seu corpo, você respira fundo. Não. Não é real! E a dor se esvai. E o medo se esvai fugidio como serpente covarde que errou o bote.
Esse medo é um monstro que te consome. Pior do que aqueles que você acreditava existirem embaixo de sua cama enquanto você aguardava a chegada de Morfeu nos tempos de infância. Distorce suas visões, altera seus sentidos, te reduz a pó. E em pó, você escreve. Paradoxalmente livre. Paradoxalmente em paz...

“Posso ser um anjo, um louco, um monstro. E, de tanto em tanto, bem muito eu queria! Visões distorcidas fazem a gente sonhar. E sonhar é tão bom...”

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Sobre coisas da Vida e a Morte


 


Eu nunca estudei não senhor, doutor! Há setenta anos eu era moleque e essa cidade aqui era um mato que só vendo! A escola mais próxima ficava na capital. Era quase o dia inteiro no lombo do cavalo pra chegar, imagine! Mas eu era menino curioso e acabei aprendendo a ler com a dona Maria, esposa do coronel Valério que era dono de mais da metade das terras dessa cidade.


Quando escurecia, a luz da lamparina clareava as folhas do punhado de livros que eu levava pra casa. E eu gostava era demais das poesias do Bernardo Guimarães! Pense, doutor! Um molequinho matuto que nem pelo tinha ainda, lendo:

“ Pelo campo etéreo voga 
Qual piroga 
Cortando o cerúleo mar.” *


 Não entendia era nada daquele palavreado todo, mas achava bonito aquele jeito esquisito de falar das coisas da vida. Pena foi a dona Maria ter se aprumado mais o coronel pra capital e eu ficar ano e ano e ano e ano sem ler um livro só de mais poeta nenhum. Eu queria ser poeta, doutor! Imagine! Poeta Francisco Neto Correia! Ia falar das coisas da vida que nem ele, o Bernardo Guimarães. Ia ser fácil igual empinar papagaio por essas bandas daqui no mês de agosto, quando o vento sopra o dia inteirinho refrescando a quentura que o sol manda pra gente. 

Porque a vida é isso, doutor! A vida é a feitura dum poema. É aquele poeta aflito demais da conta, sapecando os dedos naquela máquina de escrever que nem um pianista faz enquanto toca sua música. A vida é um poeta, doutor! Cria histórias, estórias, arranca emoção do peito da gente, conta graça e desgraça, e faz a gente se enveredar pra todo canto, num mundaréu de vírgulas sem fim. E no finalzinho o poeta escreve: “E de vírgula em vírgula faz-se o ponto.” E o poema fica pronto. E o poeta cai mortinho da Silva!

Ah, doutor! Mas eu ia falar demais das coisas da vida se eu fosse um poeta! De morte não. De morte a gente não tem muita coisa pra falar, a não ser pra contar casos de assombração pra assustar a meninada em noites de lua cheia. Fora isso, ia escrever era letra nenhuma pra falar de morte. Porque eu ia ser poeta. E a morte, doutor! 

A morte é o poema pronto.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Carta ao Coração




 É assim, meu velho!

Você bate acelerado e se resigna, porque sabe que não consigo te seguir como deveria.
Isso te machuca, eu sei. Sinto no peito seus reclames...
Basta ela aparecer e você se manifesta aqui dentro. Às vezes tenho vontade de gritar: “Cara, você é um perfeito idiota!”.
Sim, você sabe disso, eu sei...
Nós sabemos um do outro.
Eu sei que você sempre me deixa em maus lençóis.
E você sabe que eu acabo gostando disso.
Mas eu preciso que você me ouça também, meu velho!
Nós passamos juntos por todas as coisas.
E não é sempre que posso te ouvir.
Mas você sabe que aqui, no final é você quem sai ganhando. No final é seu caminho que sigo, é sua voz silenciosa que sobressai.
Portanto pondere, mesmo acelerado. Não precisa rasgar esse peito com aflição toda vez que ela aparece em nossas lembranças ou nossos sonhos. Eu vou te seguir, velho amigo! Ela vai ouvir o que temos a dizer.
É sempre assim e você bem sabe!
Então me ouça, pobre coração! Não há necessidade de se machucar, não há necessidade de doer no peito. Confie em mim, como confio em você.
Um dia ela saberá.
E eu farei a pergunta que você tanto deseja que ela responda.
Só peço para que não se machuque novamente, bichinho complicado, se ela não responder onde moram seus beijos...

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Amigos


 


O poetinha já havia dito: “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”.


Amigo! 
Já perceberam que o simples ato de dizer esta palavra faz com que nos sintamos bem? Parece que a palavra AMIGO é como um e-mail que chega com vários arquivos anexados: amor.txt, afeto.doc, brincadeira.cdr, confiança.pdf, cuidado.rar e por aí vai... 
E quantas definições temos para essa palavra? Amigo é isso, amigo é aquilo... amigo faz isso, amigo faz aquilo... um verdadeiro amigo é assim... assim assado!
Penso que as definições não importam. 
Se perguntarmos a uma criança qual o significado da palavra amigo, provavelmente vamos ouvir: “Amigo é amigo!”. Ah! Quisera eu a sabedoria inocente das crianças! Por que complicar o que é tão simples?
Amigo não precisa de explicação. Amigo é amigo, sem adjetivo. Aliás, amigo é o próprio adjetivo. Bom amigo é pleonasmo. Amigo ruim... alguém já viu? 
Amigo é uma palavra tão forte que se um desconhecido aparece com um sorriso largo no rosto e um “bom dia, amigo!”, quebra o gelo como se tivesse usando o machado que o pessoal do Nenhum de Nós pedia na década de 80.
Amigo!
Ontem, disseram, foi dia do amigo. Confesso que não sou fã de datas comemorativas. Dia disso, dia daquilo... grandes criações dos publicitários! Passei o dia perambulando pelas redes sociais enquanto trabalhava. E recebi dezenas, talvez centenas de “feliz dia do amigo!”. Bom isso! Bom ser lembrado, bom ser reconhecido como amigo! 
À todas as pessoas que me felicitaram pelo dia, agradeço de coração! Um feliz dia do amigo para todos nós, todos os dias! 
Hoje já não é dia do amigo. Mas... isso importa? Num mundo onde os valores têm sido cada vez mais distorcidos em prol de interesses escusos, todo dia deveria ser dia de dizer:

Feliz dia, amigos!