Foram-se alguns anos desde aquela época em que o menino de olhos tímidos batia os dedinhos firmes na máquina de escrever que ganhara de sua tia. O cheiro da tinta na fita, o barulho das hastes ferindo o papel, tatuando ideias inocentes de uma infância em sua última fase... sensações gostosas daqueles primeiros momentos de criação!
O menino gostava de escrever!
A leitura espantava seus bichos-papões, a escrita criava outros tantos... outros tantos que viviam num mundo distante do seu, de onde não poderiam perturbá-lo. Pois naquele mundo, o menino se transformava no dono desses bichos-papões e poderia fazer deles, o que bem entendesse...
E assim o menino foi crescendo. Virou moço, virou homem, virou escritor. Escreveu um livro e mais um e outro e outro...
A velha máquina de escrever foi abandonada e aquele cheiro gostoso da tinta e o barulho das hastes no papel, agora permanecem apenas em seus sentidos quando fecha os olhos, com as mãos sobre o teclado do computador buscando inspiração.
Ele fecha os olhos, sente o cheiro da tinta, expulsa os bichos-papões (eles sempre existem) e lembra-se daqueles tempos do menino que gostava de escrever.
Ah, menino! Deixe suas ideias fugirem pro papel! Solte essa emoção que bate em seu peito, transforme as lágrimas em poesias bonitas, daquelas que faz a gente rir de emoção ou chorar de alegria! Toque seus dedos com vigor nessa velha máquina de escrever que o tempo não destruiu! E agradeça aos céus pela beleza do tempo! Porque hoje seus escritos já não ficam mais amassados, perdidos entre pilhas e pilhas e pilhas de outros sentimentos...
O texto termina e o escritor está prestes a postar.
Respira fundo.
Toma um gole de café.
Sorri.
Imagina o menino satisfeito jogando centenas de cópias datilografas ao vento, no meio de uma multidão de leitores – amigos anônimos ou não, seres incríveis que perpetuam a existência do escritor quando correm os olhos pelos sentimentos transformados em palavras...
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