domingo, 7 de outubro de 2012

Onde estão os Versos?


 


A cena é clássica:

Os dedos dançam sobre as teclas da máquina de escrever, as hastes golpeiam a fita que lança a tinta ao papel. O som no ambiente é como a batida de uma bateria, que marca o compasso da música. Mas eis que de repente a canção se interrompe. O papel é arrancado num gesto brusco, embolado, amassado, atirado ao chão... une-se a outros tantos. O poeta suspira, leva as mãos à cabeça, acende um cigarro, toma um gole do café amargo que sequer notara frio. Vai até a janela, lança o olhar perdido ao mundo lá fora. Onde estão os versos?
Penúria – maldito momento na vida dos amantes das palavras que agora serpenteiam fugidias. Momento cruel, momento vão! Nem as flores no jardim, nem a menininha brincando no balanço, nem as andorinhas enfeitando o céu azul, nem o beijo da menina dos olhos, nem a complexidade apaixonante dos homens, nem o cheiro da terra molhada... nenhuma das sutilezas que inspiram o poeta, servem-lhe de prumo. As palavras simplesmente não acontecem. E este não acontecer golpeia a alma, machuca, dilacera, corrói. Mas não mata.
E eis que o poeta decide fazer da própria inércia criativa sua musa inspiradora. Tamanha necessidade de palavras, tamanha obsessão de arte, tamanha necessidade de criação...
Onde estão os versos?

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