quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Eu vim para lhe fazer Sofrer


 


Não se engane mais comigo, querida. Você acredita mesmo que eu lhe trarei paz, serenidade, segurança? Não, bebê! Não se iluda com minha voz mansa, com meu jeito calmo. Não pense que a doçura dos meus gestos podem lhe trazer tranquilidade ou coisa do tipo. Eu não entrei em sua vida para lhe fazer feliz, como você quer supor. Felicidade é uma dádiva que a gente não recebe de ninguém. Tampouco entrei em sua vida para lhe confortar, lhe dar abrigo, carinho, colo, atenção... não! Por favor, não me creia assim! Não me creia mais assim, porque eu já não creio mais...

Talvez seja difícil aceitar. Talvez pareça uma ideia inconcebível demais. Mas é a pura verdade: eu vim para lhe fazer sofrer, amor.  Eu vim lhe tirar o chão, vim colocar todas as suas verdades em cheque e lhe apresentar um mundo de incertezas que, à priori, podem lhe parecer cruéis. Tão cruéis que, ainda sinto, você as desconsidera, como que numa tentativa de espantar a dor. É como aquele inverno de 2006, lembra?  Para dizer que te amava tanto, mas que você não valia a pena, eu recitei um poema de Vinícius debaixo daquele céu de Araçoiaba, inundado de estrelas de toda sorte. E você sorriu, nem cismou em argumentar. E eu, falho que sou, retratei aquele sorriso ingênuo de quem teima em se iludir na memória e rechacei (mais uma vez).
E os anos nos passaram tão rápidos! Houve um tempo em que me acostumei com sua ausência. E me apaixonei por ela. Me apaixonei pela ideia de que existia alguém, em algum lugar, que me continuava. Romantizei a nossa história e me apeguei a ela de modo tão ousado e insano, que consegui manter-te viva aqui dentro, até a próxima vez.
Pelos deuses, bebê! Como eu desejei fazer-te bem! Cuidar de você como se cuida da flor mais frágil. Fazer parte da sua vida de maneira intrínseca, lhe acordar com café da manhã posto, um beijo e uma boa notícia. O universo sabe o quanto eu queria sua felicidade comigo! Mas... eu vim para lhe fazer sofrer. Eis a verdade que eu constatei tão logo nos despedimos na última vez: todas as minhas tentativas de amor fizeram com que nos afastássemos cada vez mais. Ser amada incondicionalmente é algo estranho demais para você. Você aprendeu que o mundo não é assim. Você aprendeu que sempre existem intenções escondidas atrás de cada gesto de carinho ou afeto. Sua experiência fez com que você acreditasse que nada é de graça e que uma história mágica de amor não pode ser vivida senão nos filmes ou nos livros.
Portanto, amor... peço para que não se iluda mais, assim como eu me iludi. Eu não quero sua felicidade ilusória. Eu não quero seu sorriso fantasioso e a crença mentirosa de que estaremos juntos, no universo demasiadamente incerto do minuto seguinte. Eu quero sua dor, eu quero sua lágrima e quero seu mundo completamente desmoronado. Eu quero lhe fazer sofrer.  Eu vim para lhe fazer sofrer.
Pegue minha mão.
Veja o mundo cruel onde vivemos.
As pessoas não se importam.
Eu não me importo.
Você não se importa.
Pegue minha mão.
Me dê de presente suas dores e suas angústias.
Eu vim para lhe fazer sofrer.
Pois não é seu sorriso que habito e sim, sua penumbra.
Abra os olhos e veja a verdade que lhe mostro:
Nós jamais ficaremos juntos.
Porque eu te amo desde a primeira vez. Eu ainda te amo como a primeira vez. Mas depois de tantos anos, por mais que eu me esforce e tente, não consigo te levar a sério como antes ...



“Toda pureza que vem do teu olhar, eu não sei mais sentir...”
Renato Russo

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Oh, Céus!




 Sentir me faz falta.

Preciso confessar minha carência. Carência daqueles sentimentos que tornam um cara como eu, um ser mais vivo. Carência daqueles sentimentos que me inspiram e embriagam minha alma. Carência de fogo, de paixão, de alarde, de erros!
Quero um sorriso bobo estampado no meu rosto, quero o coração descompassado por um beijo, quero o passo em falso – momento divino em que a gente se entrega de corpo e alma ao universo maravilhosamente desconhecido do próximo minuto.
Quero me apaixonar perdidamente e, perdido, não conseguir voltar.
Quero provocar risadas, arrepios, mordidas, devaneios,  xingamentos de bobo, de chato, de feio, de meu...
Quero dormir abraçado e acordar ao lado da moça que eu quis.
Quero aquelas promessas de amor que só os olhos sabem pronunciar e os corações sabem cumprir. Quero querer pra sempre, mesmo sabendo que é longe demais.
Oh céus!
Como eu quero suprir essa carência que sinto de mim mesmo...

domingo, 7 de outubro de 2012

Onde estão os Versos?


 


A cena é clássica:

Os dedos dançam sobre as teclas da máquina de escrever, as hastes golpeiam a fita que lança a tinta ao papel. O som no ambiente é como a batida de uma bateria, que marca o compasso da música. Mas eis que de repente a canção se interrompe. O papel é arrancado num gesto brusco, embolado, amassado, atirado ao chão... une-se a outros tantos. O poeta suspira, leva as mãos à cabeça, acende um cigarro, toma um gole do café amargo que sequer notara frio. Vai até a janela, lança o olhar perdido ao mundo lá fora. Onde estão os versos?
Penúria – maldito momento na vida dos amantes das palavras que agora serpenteiam fugidias. Momento cruel, momento vão! Nem as flores no jardim, nem a menininha brincando no balanço, nem as andorinhas enfeitando o céu azul, nem o beijo da menina dos olhos, nem a complexidade apaixonante dos homens, nem o cheiro da terra molhada... nenhuma das sutilezas que inspiram o poeta, servem-lhe de prumo. As palavras simplesmente não acontecem. E este não acontecer golpeia a alma, machuca, dilacera, corrói. Mas não mata.
E eis que o poeta decide fazer da própria inércia criativa sua musa inspiradora. Tamanha necessidade de palavras, tamanha obsessão de arte, tamanha necessidade de criação...
Onde estão os versos?

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Odeio Química! (por que o amor é tão complicado?)


 


Odeio!  Desde os anos noventa, quando, no primeiro ano do segundo grau, me tentaram explicar o que era química. Nessa tentativa, no final do terceiro ano do segundo grau, a única coisa de química que eu sabia era que eu tinha um problema sério com a periodicidade da tabela...

Química!
Sempre fui do abstrato, do inexplicável, do tenebroso universo onde as razões ficam meio sem sentido. Prefiro a vírgula ao ponto final.
Numa das minhas andanças, acabei conhecendo a química, tal qual é. Acabei descobrindo que tenho uma química com a química!
Sempre ouvia as pessoas falando sobre a química quando queriam falar de amor:  Mas... e a química?
Opa! Se o amor tinha mesmo alguma coisa a ver com a química, eu tinha que tratar logo de entender a química pra depois entender de amor...
Foram meses e meses dormindo sobre pilhas e pilhas de livros sobre química. Confesso que não devorei todos aqueles livros com os olhos de um cientista. Li  cada um deles com a visão de um poeta, querendo encontrar o amor naquele emaranhado de razões...
Misturei os elementos, inventei fórmulas de carinho, respeito e amizade. Descobri a harmonia. Mas era a harmonia. O amor estava além.  Tropecei no ciúme, na insegurança, na mentira, no desafeto, no medo. Mas, na hora que pensei em voltar atrás, descobri que até esses elementos que me foram cruéis, também faziam parte do amor. Porque o amor estava além...
Sério, entender de H2O é bem mais fácil!
Odeio química!
Porque o amor é tão complicado?

domingo, 8 de julho de 2012

Poema pra te Conhecer




Que água que você bebe?

Que fruta que você come?
Que angústia que te persegue?
Que raiva que te consome?

Que beijo que você deu?
Que sonho que você tem?
Que bobo que te perdeu?
Que risco que te mantém?

Que flor que você gosta?
Que doce que você faz?
Que roupa que você mostra?
Que brinquedo te satisfaz?

Que hora que vai dormir?
Que grito pra te acordar?
Que cor pra te seduzir?
Que medo te faz parar?

Que canção que te ganhou?
Que hora que diz: "não sei"?
Que verso que te encantou...
do poema que eu te dei?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pra não dizer que não falei das cores


 


É fato. Quando está escuro, meu coração não consegue ler o que eu sinto. É um turbilhão de batimentos desvairados e incessantes no lugar das palavras doces e coloridas que me ditava outrora. Esse bater descompassado – grito silencioso – entorpece os meus sentidos e as palavras fogem, que nem crianças brincalhonas correndo sorrateiras e fugidias pelos esconde-escondes da vida.

É sim. Quando está escuro, gente tola como eu – que não liga muito pro saber – se consome em sentimentos que não sabe explicar. É… a gente entende muito mais do sentir! Parece que os sentimentos são as engrenagens que nos movem. E eles sempre nos movem! Mas os moinhos giram com mais ternura movidos pela brisa do que pelo furacão.

É verdade. Furacão de palavras que eu tento agora colocar em ordem, buscando a serenidade da brisa na alma, tentando acalentar o pobre coração que bate despudorado em meu peito! É que coração tem medo de escuro, ignorância machuca o coração que é pobre de saber, como a gente, gente como eu…

Pois bem! Perdão a quem me lê agora, por não saber acalmar meu coração. Resta-me o silêncio insosso até que a noite termine cá dentro, a tempestade de sentimentos loucos acabe e as palavras que meu coração costuma ditar me venham nas cores do arco íris – que sempre – surgirá no horizonte…

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ser Humano




Não foi o destino.
Não foi você que me lê agora.
Não foi nada.
Nem ninguém.

 Nem foi a vida que outrora chamei de dura e cruel. 

É que era mais fácil externar a culpa do que aceitar-me
Ser humano.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Canção para a Xumbrisquinha Sabida




Coração que cola
Logo quando se descola
Coração que bate
Vitamina de abacate

Coração que não dá bola
Logo quando se descola

Bola que ninguém deu
Pro coração que não bateu
Menina do coração!
Ama tanto! Sabe não!

Coração quebrou
Tanto, tanto que amou!
Menina linda da canção!
Faz bater seu coração

Bate, apanha, chora não!

Menina linda que nem flor!
Nasce logo outro amor
Ama, sofre, sem pudor...

Coração que cola
Logo quando se descola!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ensaio sobre a Loucura




De verdade, estou tão acostumado a ser chamado de maluco, louco, doido, habitante da lua, utópico, e mais sei lá quantos números de outros adjetivos que remetem à insanidade, que quando minha psicóloga disse: “Libério, você é absolutamente normal!”, eu respondi quase gargalhando: “Então você é mais maluca do que eu...”.

É que eu adotei estes adjetivos, não como apelido, mas como o próprio sobrenome, que, querendo ou não, entram no sangue e depois na alma, de onde não saem mais. E juro que gosto disto. Gosto de dizer que não sou normal.
Não sigo os padrões.
Sou bicho solto.
Bicho doido.
Não sou e não quero ser normal. Eu não quero ser responsável como os outros, vestir um terno e ir para o trabalho. Chegar às oito, sair às dezoito. Eu quero fazer o que gosto de fazer. Eu quero ser feliz, mesmo que para isto, eu tenha que ser louco.
Comecei a ser rebatizado na infância, quando ia para as festinhas de aniversário dos primos e amigos com um livro nas mãos. Enquanto a criançada brincava e se divertia com jogos e peraltices, eu ia para um lugar mais tranquilo e brincava de ler. Uma opção, como escolher entre brincar de bola ou vídeo game. E eu também brincava de bola e de vídeo game. Mesmo assim, sempre ouvia, quando aparecia com um livro nas mãos: “Vá brincar, menino! Parece doido sozinho, carregando um livro pra todo lado!”. Mas eu estava brincando...
Sabe aquela cena clássica do garoto que esconde uma revista de mulher nua por trás de um livro? Pois bem, fui pego pela minha mãe certa vez, com oito anos de idade, lendo “Zezinho, o dono da Porquinha Preta” por trás de um livro de matemática (façam o mesmo molecada, se preferirem matemática, ou ciências, ou anatomia feminina a Zezinho, o dono da Porquinha Preta).
Daí vieram a adolescência e a juventude. Nascido no interior, numa turma de onze amigos, fui o primeiro a aparecer com os cabelos totalmente raspados, depois grandes, depois usando brincos, depois com tatuagem... fui o primeiro a fumar cigarro, a tomar um porre... fui o único a fazer striptease e serenata em bordel... naquela época, os que criticavam minha paixão pela poesia, agora usufruíam dela, em forma de cartas que eu escrevia para suas “meninas dos olhos” (elas nunca souberam disto, amigo fiel que sou).
Em consequência destas cartas, que claro, eu escrevia com mais primazia para as minhas “meninas dos olhos”, fui também o primeiro a me apaixonar, o primeiro a ter um filho e a me casar (não, não... Igreja não. Não sou normal, já disse). Eu já estava no meu segundo casamento quando veio o próximo da fila (sim, sim... Igreja sim. Ele é normal).
Então veio a maior das minhas loucuras. A mais insana e doce das minhas decisões: Eu vou viver de escrever!
E minha psicóloga de mais de dez sessões, diz que eu sou absolutamente normal!
Quer saber? Fazendo um ensaio sobre a loucura, eu fico com um diálogo que ouvi ontem. Um diálogo simples e despretensioso que tirou lágrimas dos meus olhos. Uma cena do filme E Se Nada Mais Der Certo, dirigido por José Eduardo Belmonte:
_ Eu não sou normal.
_ Ninguém é normal. Só existem algumas pessoas que conseguem fingir melhor que as outras...
 
 
 
“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a musica.”
Friedrich Nietzsche